Têm dias que eu fico tentando realizar quanta coisa eu tenho vivido nos últimos tempos.
Do começo da pandemia pra cá parece que foram umas 39 vidas. Meio que o tempo andou de forma bizarra.

Me lembro da sensação de chegar aqui, do frio e da chuva interminável, dos caminhos que não conhecia, de como eu via e entendia a cidade – e, claro, do sentimento de estar chegando em outra cidade sozinha.
Tudo tinha cheiro de aventura.

Naquela época eu estava trabalhando como “freela fixo” para uma agência do Brasil e criei um possível roteiro pra minha vida – pelas próximas 3 semanas, que seriam os 21 dias que passaria aqui em Belgrado.

Não demorou muito, comecei a conhecer pessoas. Teodora, Igor, Matias, Sandra, Sasha, Ivana, Anja, Nenad.
Pré-corona, até no inverno a cidade me cativou. As pessoas era incríveis demais para eu ir embora e passar meu aniversário sozinha em Sarajevo (que era o plano inicial).

Faltando dois dias para minha partida, decidi ficar mais 3 semanas – e procurei outro ap no Airbnb para me alojar. Achei.
Achei a casinha de boneca do host Branko (que quem diria, se tornaria parte da minha vida e me incluiria em sua família).

No dia do meu aniversário, o lockdown veio, o estado de emergência foi declarado.
Não teve festa, não teve viagem, não podia sair nem para tirar o lixo.

E foram nesses 35m2 que fiquei presa.
Ali fora, nascia uma família, a minha. Na porta ao lado, grandes amizades surgiram e, as pessoas que eu citei acima, seguiam cuidando de mim, mesmo que à distância.

Quando as coisas “melhoraram”, eu enfrentei muitos perrengues por conta de papel.
E quem me ajudou? Essas pessoas. TODAS elas.
E delas surgiram mais tantas outras. Um jardim de amor à minha volta.
Conexões que fazem tudo ser mais fácil, mesmo quando poderia ter sido difícil para caraca.


E assim foram 5 meses, que viraram 6, que viram um ano e tanto.
Mas, fazendo as contas aqui, desse 1 ano e tanto que estou aqui, foram 5 semanas la fora, quase 6 meses sozinha em casa, 3 meses fora da Sérvia.

Agora, somente agora, depois de uma montanha-russa do Six Flags de ponta cabeça, eis que eu FINALMENTE posso relaxar e comemorar tudo isso.

Comecei a comemorar meus últimos 2 aniversários (que não teve festa – 2020 e 2021), vou comemorar os encontros, as amizades, os perrengues superados, o sol, a neve, a lua, as estrelas – que foram minha companhia no ultimo ano- a família, a gratidão, as oportunidades, a vacina, os papeis, os anjos do caminho…

Sabe… eu não sei quanto tempo vou ficar por aqui, mas se eu estou me escrevendo isso, é porque eu não quero esquecer.

A gente sabe que o sentimento se perde e vira lembrança – e a sensação é o que eu quero lembrar, do sorriso no rosto que tenho nesse momento, terminando de escrever algo que pode não fazer sentido nenhum pra mais ninguém.
🙂

Muito bom estar aqui. E que bom que tive calma para superar o tsunami…
Que seja eterno enquanto dure.
Que seja lindo enquanto possa.


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